sábado, 10 de março de 2012

Boletim "A Palavra" - Una Voce Natal - Ano VI, n. 16
Terceiro Domingo da Quaresma




O Terceiro Domingo da Quaresma é marcado pelo Evangelho (S.Lucas 11:14-28), dedicado à existência do demônio e à sua íntima conexão com o estado de pecado. O Padre Antonio Vieira dedicou um importante sermão ao Domingo:


Pecar é abrir as portas ao demónio para que entre à alma; pecar e emudecer, é abrir-lhe as portas para que entre, e cerrar-lhe a porta para que não possa sair. Isto é o que em alegoria comum temos hoje no Evangelho. Um homem endemoninhado e mudo. Endemoninhado, porque abriu o homem as portas ao pecado; mudo, porque fechou o demónio a porta à confissão.

E que fez Cristo neste caso? Maior caso ainda! Erat ejiciens daemonium. Não diz o evangelista que lançou Cristo o demónio fora, senão que o estava lançando. Achava Cristo repugnância, achava força, achava resistência, porque não há coisa que resista a Deus neste mundo senão um pecador mudo. Tantas vozes de Deus aos ouvidos, e o pecador mudo? Tantos raios e tantas luzes aos olhos, e o pecador mudo? Tantas razões ao entendimento, tantos motivos à vontade, tantos exemplos e tão desastrados e tão repetidos à memória, e o pecador mudo? Que fez aí fim Cristo? Aplicou a virtude de seu poder eficaz, bateu à porta; porque não bastou bater à porta, insistiu, apertou, venceu, saiu rendido o demónio, e falou o mudo: Cum ejecisset daemonium, locutus est mutus. Este foi o fim da batalha, glorioso para Cristo, venturoso para o homem, afrontoso para o demónio, maravilhoso para os circunstantes, e só para o nosso intento parece que menos próprio e menos airoso. Diz que primeiro saiu o demónio, e depois falou o mudo: Cum ejecisset daemonium, locutus est mutus. E nesta circunstância, parece que se encontra a ordem do milagre com a essência do mistério. Na confissão, primeiro fala o mudo, e depois sai o demónio; primeiro se confessa o pecador, e depois se absolve o pecado. Logo, se neste milagre se representa o mistério da confissão, primeiro havia de falar o mudo, e depois havia de sair o demónio. Antes não, e por isso mesmo, porque aqui não só se representa a confissão, senão a confissão perfeita, e a confissão perfeita não é aquela em que primeiro se confessa o pecado, e depois se perdoa, senão aquela em que primeiro se perdoa, e depois se confessa.

... A confissão menos perfeita começa pelos pés de Deus, e acaba pelos braços; a confissão perfeitíssima começa pelos braços e acaba pelos pés, como aconteceu ao pródigo. A razão é clara, porque a confissão perfeitíssima é aquela em que o pecador vai aos pés de Deus verdadeiramente contrito e arrependido de seus pecados. Vai verdadeiramente contrito e arrependido? Logo já vai em graça, já vai perdoado, já vai absolto. E esta é a confissão que hoje temos no milagre do Evangelho. Confissão em que primeiro se recebe a graça e depois se confessa o pecado; confissão em que primeiro sai o demónio, e depois fala o mudo: Cum ejecisset daemonium, locutus est mutus.

Padre António Vieira, in “Sermão da Terceira Dominga da Quaresma”, pregado na Capela Real, em Lisboa, em 1655


 Em latim, o domingo chama-se "Dominica Tertia in Quadragesima".


Veja o folheto do Terceiro Domingo da Quaresma aqui.


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